A família de Watsachol não era rica. Sua casa ficava em uma área rural, cercada de arrozais e pequenos campos. O suficiente apenas para se manter. A mãe sempre repetia que isso bastava, que estavam satisfeitos com o que tinham.
Mas Watsachol nunca acreditou totalmente nessas palavras. Para ele, a mãe apenas dizia isso para se consolar. No fundo, aquela vida limitada, simples e sem futuro, nunca poderia ser considerada suficiente.
Quando entrou no segundo ano do ensino médio, sua mãe decidiu mandá-lo estudar em uma escola da cidade. Para ele, aquilo era como abrir uma janela para um mundo novo. Mas, junto com a felicidade, veio também o peso da responsabilidade: viver na cidade custava caro, e a mãe não tinha condições de sustentar sozinha.
Assim, Watsachol começou a trabalhar meio período em uma pequena mercearia. O serviço era pesado descarregar caminhões, arrumar caixas e limpar a loja mas pelo menos o salário ajudava a pagar as despesas do dia a dia.
Mesmo cansado, ele não reclamava. Pelo contrário: sempre que tinha um momento de descanso, deixava sua mente voar para lugares distantes, para uma vida que fosse maior do que a que conhecia.
Certo dia, enquanto trabalhava, um amigo brincou com ele:
— Ei, você já pensou em ser cantor? Sua voz é boa, diferente da maioria. Se se esforçar, pode dar certo!
Watsachol riu, desconcertado:
— Cantor? Eu? Isso é impossível.
Mas aquelas palavras ficaram em sua cabeça.
Quando estava sozinho, cantarolava. A música sempre trazia leveza ao seu coração. Era como se, por alguns minutos, todos os problemas desaparecessem, e só restasse ele e a melodia.
Ainda assim, Watsachol sabia a diferença entre sonho e realidade. Seu trabalho pesado, as obrigações, a pobreza tudo o prendia ao chão. Mesmo assim, algo dentro dele sussurrava que talvez, só talvez, a música pudesse ser um caminho.
Mas havia outra questão que pesava em sua vida: as expectativas da família. Seu pai queria que ele fosse como qualquer outro jovem do campo, alguém que herdaria a vida agrícola. Sua mãe apenas desejava que ele não fosse um peso.
— Você não deve sonhar alto demais diziam. Pessoas como nós precisam apenas sobreviver.
Porém, no íntimo, Watsachol não conseguia se conformar. Não podia aceitar que aquela fosse sua única opção.
Naquele dia, ao arrumar a loja, ele olhou o reflexo em uma das garrafas na prateleira e murmurou para si mesmo:
— Será que eu tenho uma chance de ser mais do que isso?
E pela primeira vez, acreditou que talvez o destino não estivesse selado.
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