O monitor brilhou quando o botão de ligar foi pressionado para começar a funcionar. O jovem dono olhou para o que apareceu quando a internet conectou. Dezenas de e-mails se alinharam na caixa de entrada, alguns vindos do mesmo lugar, outros de lugares diferentes. Todos começaram a chegar desde o mês passado até ontem, e quando ele estava prestes a clicar na mensagem mais antiga, apareceu uma notificação de nova mensagem.
"Mas o que é isso tudo...?"
O rapaz pensou consigo mesmo antes de abrir a primeira mensagem e ir recusando os trabalhos um por um. No fim, só aceitou 5 de 13 convites, porque alguns chegaram tarde demais.
Depois de resolver os e-mails, ele foi para as mensagens do celular. Respondeu dizendo que, no momento, não tinha tempo livre, então pediu para adiar a aceitação de novos trabalhos por mais um tempo.
"Será que mentir assim é bom?" Uma vozinha veio de trás dele. O jovem se virou e viu aquela coisa que estava em seu quarto há cerca de um mês. A dona da voz tinha o corpo de um menino de jardim de infância, mas era pequena como um bebê, voando perto do dono do quarto. Sim, aquela coisa podia voar com as asinhas brancas nas costas, que pareciam não combinar com o tamanho do corpo.
"Isso é problema meu," respondeu o dono do quarto, voltando os olhos para o celular e enviando a última mensagem antes de jogá-lo na cama sem pensar.
“Coloque na mesa,” ele respondeu sem olhar. O que foi trazido era mais um motivo para ele ter que sair de casa: as contas de serviços, que ele não podia evitar porque eram essenciais para a vida. Mas, ultimamente... será que não seria melhor deixar a internet ser cortada? De qualquer forma, ele mal usava mesmo. A internet lenta só fazia ele se preocupar com coisas vindas do mundo lá fora, que agora ele não queria mais.
O miojo, cozido até quase desmanchar, foi colocado na tigela de cerâmica junto com o caldo quente e mais alguns ingredientes. Ele levou até a mesinha baixa e deixou lá, sem comer imediatamente.
“Comendo isso de novo?” A criança alada olhou para o miojo e se jogou no chão rolando.
“Quando você vai parar de se meter na minha vida?”
“Eu já te disse tantas vezes, né? Eu só estou aqui porque você me trouxe, então não posso ir embora — e ninguém além de você pode me ver.” O pequeno virou de bruços, apoiando o queixo nas mãos e balançando as pernas. “Se você não me quiser mais, aí sim eu posso ir embora.”
“Nunca disse que queria você aqui. E estou tentando te mandar embora agora,” o rapaz revirou os olhos e pegou a conta para olhar.
O nome no envelope era dele mesmo. Quando teve certeza de que a carta estava no lugar certo, ele a deixou em um ponto visível para não esquecer.
“O que é necessário não tem a ver com querer ou não querer. É uma necessidade ter a minha presença aqui,” disse a criança com jeito de adulto, voando até a mesa. “Na verdade, não é que você não me queira, é a minha aparência que te incomoda, né?”
Natee olhou para a criança, depois voltou para o miojo sem dizer nada.
“Porque eu pareço com... Rati.”
“Na verdade, eu sou ele. Você não acredita?”
O rapaz olhou para aquela coisa que dizia ser alguém do seu passado. O rosto, o jeito de falar, a voz... tudo era igual ao que ele lembrava. Exceto que... aquela pessoa não estava mais viva, e da última vez que se viram, Rati não era uma criança pequena assim.
“Você é só imaginação.”
“Cabeça-dura!” resmungou o pequeno que dizia se chamar Rati, cruzando os braços com cara emburrada. Parecia que ele teria que fazer alguma coisa a respeito.
Pharanyu puxou a cadeira da mesa e se jogou nela. Na sua frente estava o monitor do computador do quarto. O rapaz abriu o navegador e digitou o nome de uma pessoa no buscador que já conhecia. O resultado foi bem decepcionante: o nome dessa pessoa não trouxe nenhum desenho, só informações genéricas que podiam ser divulgadas, e a maioria nem tinha o mesmo sobrenome que ele procurava. Parecia que essa pessoa não trabalhava mais com arte, ou talvez tivesse mudado de nome.
Ele tentou de novo, digitando em inglês, mesmo sem saber se estava certo. Vários links apareceram, todos relacionados a arte e ilustração. Pharanyu sorriu feliz estava mais perto da verdade, porque um desses sites tinha um e-mail de contato. Mesmo sem saber se era realmente a pessoa que procurava, já que não conhecia o apelido do outro, resolveu arriscar.
Pharanyu engoliu em seco antes de decidir tentar. Se não fosse, provavelmente receberia uma resposta negativa. Mas… e se não fosse, o que faria depois? Fora isso, ele não tinha mais nenhuma pista, já que dados pessoais normalmente são protegidos por lei, então é difícil encontrar algo em buscadores a não ser que a própria pessoa tenha postado em algum lugar público. Ou seja, além desse e-mail, ele não tinha mais nada, nem telefone fixo.
Será que deveria tentar pesquisar só pelo sobrenome? Talvez encontrasse a família, mas isso não garantiria que eram só os pais ou irmãos da pessoa podia acabar achando parentes distantes que nem conhecia, e isso poderia fazer ele parecer um stalker.
Enquanto pensava em alternativas, suas mãos terminaram de digitar o e-mail de apresentação. Ele enviou para o dono do e-mail, explicando o motivo do contato, esperando uma resposta. O rapaz recostou na cadeira e apoiou os braços atrás da cabeça.
“Jantar está pronto~”
“Uau!”
Crash!
Pinnalai fechou os olhos ao ver o irmão se assustar tanto com o chamado que caiu da cadeira. As rodinhas giraram um tempo antes de parar, e ele ficou estatelado no chão de um jeito nada bonito. A garota suspirou e olhou para o monitor do computador, que ainda mostrava a janela do e-mail enviado. Não parecia nada suspeito ou que precisasse ser escondido, então por que o irmão ficou tão assustado ao ser chamado de repente?
“Você estava mandando filme proibido pros amigos, é?” Pinnalai perguntou, sorrindo com malícia.
“Tá maluca? Nem tenho esse tipo de coisa no computador!” Pharanyu se levantou, esfregando as costas doloridas.
“Então bate na porta antes de entrar! Se você abrir e eu estiver pelado, vai acabar pegando terçol!” disse o rapaz, levantando-se e colocando a cadeira de volta no lugar. O e-mail já tinha sido enviado, mas ainda não havia resposta, então Pharanyu fechou o navegador, pensando que talvez tivesse que esperar um pouco. Mesmo assim, ele estava ansioso por dentro. Se pudesse, gostaria de viajar pelo sinal da internet até o destino daquele e-mail, mas infelizmente isso está muito além das capacidades humanas.
“Vamos comer, senão a mamãe vai reclamar,” disse Pinnalai, puxando o irmão para fora do quarto ao ver que ele parecia apegado demais ao computador. Se fosse um mundo de fantasia, ela pensaria que o irmão estava sendo sugado por uma garota cibernética.
Os dois desceram para a sala de jantar. Assim que Pharanyu colocou a primeira colher de arroz na boca, percebeu que a mãe estava de bom humor, e todos pareciam felizes com o jantar.
“Venha aqui um instante,” depois do jantar, Gurit chamou Pharanyu para o escritório. Embora estivesse curioso, ele seguiu o pai sem perguntar nada. Raramente Pharanyu entrava naquele cômodo, já que normalmente era a mãe quem limpava lá e ele nunca tinha nada pra fazer ali.
O pai pegou uma pasta grande, colocou sobre a mesa e empurrou para o filho.
Pharanyu olhou desconfiado antes de se sentar do outro lado da mesa e abrir a pasta, enquanto o pai parecia um pouco animado.
Dentro havia folhas brancas tamanho A4 guardadas em plásticos. Nos papéis, rabiscos de lápis meio bagunçados, mas dava pra ver que o dono tentou desenhar pessoas, casas e o sol.
Isso é...
O olhar de Pharanyu foi para o canto do desenho, onde havia uma data escrita de caneta preta — mais de 20 anos atrás.
Ele continuou folheando. Ainda eram desenhos, parecidos com o primeiro, com datas de poucos dias depois. Conforme virava as páginas, os desenhos iam mudando aos poucos: paisagens simples, árvores, casas, sol e poucas pessoas, mas mostrando evolução com o tempo. Pharanyu sorriu para si mesmo vendo aquelas imagens passarem. Ele mal se lembrava disso, nem sabia como tinham surgido, mas todos foram feitos por ele... quando era criança.
A maioria das crianças se empolga em desenhar alguma coisa, mas logo abandona e começa algo novo. Só alguns desenhos são feitos com mais carinho e mostrados aos pais para ganhar elogios.
Mas aqui... era praticamente tudo, tanto os rabiscos feitos de qualquer jeito quanto os que ele fez com mais cuidado para alguém ver. O pai deve ter guardado tudo, pois a letra das datas era dele, sem dúvida.
Pharanyu levantou o olhar e viu Gurit encarando-o de volta.