13 de out. de 2025

Manner Of Death - Capítulo 30

Capítulo 30 :: Promessas e Partidas

Acho que consigo deixar Bunn feliz na maior parte do tempo, graças às táticas de Boonlert.
Não importa o que eu faça por Bunn, ele sempre sorri e fala comigo de forma alegre. Toda vez que olho para ele, meu coração se derrete.

Estamos sentados em um café perto da residência. Observo Bunn com o nariz enfiado em um livro de inglês que ele trouxe consigo. Aproveito a vista até que ele levanta os olhos, desconfiado.

— O que está olhando? — ele pergunta.

— Ué, não posso olhar pra você? — provoco, sabendo que dessa vez ele não vai se irritar.

— Você me distrai — murmura Bunn, voltando ao livro e se escondendo atrás dele. — Estou com fome. Vai pegar um pedaço de bolo pra mim.

— Claro — respondo, levantando-me para ir ao balcão da cafeteria, onde os doces e tortas estão expostos de maneira tentadora.
Sei que Bunn come de tudo, mas, se puder escolher, sempre prefere algo com chocolate. Escolho então uma fatia de cheesecake com brownie, pago e volto à mesa.

— Quanto foi? — pergunta ele, já pegando a carteira.

— Não foi nada — respondo rapidamente. — É por minha conta.

Bunn me observa em silêncio antes de tirar a mão do bolso.
— Economize. Você não precisa pagar por mim toda vez.

Balanço a cabeça.
— Estou bem, confia em mim. Amanhã já começo a ganhar um dinheiro.

— Vai começar as aulas de reforço amanhã? Já terminou de preparar as lições? — pergunta com um olhar preocupado.

— Vou usar as mesmas de quando comecei. Trouxe algumas comigo. Pra ser sincero, já estou pronto pra ensinar faz tempo — só estava esperando aparecerem alunos.

— E onde vai ser?

— Vou ensinar quatro alunos do segundo ano, bem em frente ao prédio da Faculdade de Medicina. — Fico feliz em ver Bunn interessado no que faço, em saber que ele se importa comigo. — Ei, Bunn… quer saber qual é o meu sonho?

Ele ergue as sobrancelhas.
— Qual?

— Quando eu conseguir vender as propriedades e juntar dinheiro suficiente com as aulas, quero abrir minha própria escola e oferecer cursos on-line. Quero fazer uma fortuna, ter dinheiro o bastante pra comprar um apartamento pra nós dois… só pra nós. Vou te levar à praia e vamos viajar sempre.

Bunn me olha em silêncio e, de repente, começa a rir como se tivesse ouvido algo hilário.
— Não precisa disso.

— Por isso eu disse que é um sonho — digo, estendendo a mão para tocar a dele. — Mas isso não quer dizer que eu não vá tentar.

Uma jovem garçonete se aproxima para servir o bolo e nos lança um sorriso antes de se afastar. Bunn abaixa o olhar para o brownie que pedi pra ele.

— Faça o que quiser. É bom ter sonhos, só não seja duro demais consigo mesmo. E não me coloque como meta. Eu não quero nada de você. Estar assim, juntos, já é o suficiente pra mim.

— Deixa eu ter as metas que eu quiser. Pensar nelas me dá energia pra levantar todas as manhãs e ir dar aula.

Bunn sorri.
— É mesmo? Então veremos.

Retribuo o sorriso dele. Sinto uma energia positiva me preencher por inteiro. Desde que minha mãe morreu, Bunn é a única pessoa que me resta. Ele é quem me encoraja todos os dias. Não consigo imaginar o que teria sido de mim se ele não tivesse aparecido naquele dia. Talvez eu já tivesse deixado este mundo. Esse homem se tornou minha vida e minha alma.

Vou passar o resto dos meus dias consertando meus erros do passado e sendo eternamente grato a ele por ter me salvado.
Dou a ele a minha vida.


Mais tarde...

— Certo, alguma outra dúvida? Se vocês entenderam, a prova não será complicada. Só precisam se concentrar na estequiometria. Não é impossível, apenas exige esforço.  Reúno as folhas espalhadas sobre a mesa e as guardo na bolsa.

Ping e Urn, duas de minhas alunas, olham para o livro que lhes emprestei com olhos brilhantes. Fico feliz em vê-las empolgadas com a química. E, pela minha experiência, sei que são perfeitamente capazes de aprender o conteúdo.

— Não entendo por que tive tanta dificuldade com essa matéria na escola. Finalmente estou entendendo química! — diz Ping, brincando. — Talvez eu devesse te contratar como meu professor.

— Acho que não vai ser necessário — respondo, rindo. — Bem, se não tiverem mais perguntas, podem ir. Já são quase oito da noite. Como vão pra casa?

— O pai da Ume vem nos buscar. Eu moro perto da casa dela. — Ping dá um empurrão de leve em Urn, que está distraída no celular.

Olho ao redor e vejo que ainda há vários estudantes estudando por ali. Há gente suficiente para deixá-las esperando com segurança.

— Tudo bem. Não esqueçam da promessa: vocês têm que comentar na minha página do Facebook, e eu levo uns lanches pra vocês. — Pisquei um olho.

— Pode deixar, professor Tann! Vou te dar nota A+! — responde Ping com o polegar erguido.

— Até sexta, meninas. Boa noite. — Dou um aceno e saio do prédio.

Meu primeiro trabalho em Bangkok correu bem. Os alunos da capital são diferentes dos do norte da Tailândia mais intensos, mais curiosos.

Caminho em direção à residência de Bunn, atrás do hospital. As luzes estão acesas e sinto alívio em saber que ele já está em casa. Giro a chave, abro a porta e um aroma delicioso me invade as narinas.

Vejo Bunn com uma frigideira na mão, servindo legumes salteados.

— Estou morrendo de fome digo, deixando a bolsa sobre a cadeira e seguindo o cheiro até a cozinha. Não há nada melhor do que chegar do trabalho e ter o jantar pronto.

Sento-me à mesa. Um prato de arroz e legumes já está à minha frente. Pego o celular e abro minha página no Facebook, criada para divulgar minhas aulas particulares.

— Ainda está bem parada… Bunn, compartilha pra mim?

Ele volta à mesa depois de deixar a frigideira na pia.
— Já compartilhei no grupo de Ciências Forenses, caso alguém queira um tutor pros filhos. Alguns perguntaram quanto eu cobrava de comissão.

Dou risada.
— E o que você respondeu?

— Disse que o tutor é um conhecido meu e que eu só estava ajudando. — Bunn prova os legumes.

— Por que não disse que sou seu namorado?

Bunn solta uma risadinha.
— E se você perder popularidade?

— É isso que te preocupa? Minha popularidade?! — exclamo, e ele continua comendo, impassível.
Sei que está brincando, mas, no fundo, quero que nosso relacionamento seja público. Quero que o mundo inteiro saiba que ele é meu. É ciúmes puro e ele nem liga.

Respiro fundo, frustrado, e enfio a colher no prato.
Por sorte, Bunn não percebe minha irritação. Em poucos dias ele vai viajar para o exterior; melhor não criar uma briga agora.




Dias depois...

Dizem que a segunda despedida é mais fácil, mas pra mim não é verdade.
É a segunda vez que levo Bunn ao aeroporto e ele está prestes a cruzar o mundo, deixando-me para trás.

Ficamos abraçados por longos minutos em frente ao portão de embarque.

— Mmh, já pode me soltar. Quero me despedir do meu irmão também. —
Dr. Boonlert se aproxima e me afasta delicadamente. Só então percebo o quanto o agarrei.

Bunn se vira para abraçar o irmão.
— Para de implicar com ele.

— Nunca vou perdoar o homem que me roubou o irmão com tanta facilidade — retruca Boonlert, irritado.

— Idiota. — Bunn dá um tapa leve na cabeça dele. — Cuida de você e dos nossos pais por mim.

— Pode deixar. Vejo eles hoje à noite. — Boonlert ajeita a passagem do irmão e continua: — Estude o máximo que puder. No Ocidente os professores não pegam na sua mão; é você quem corre atrás. Faça perguntas, não tenha medo. E mantenha-se longe de encrenca, entendeu?

— Do que está falando? — Bunn pega a mala.

— De tudo — Boonlert responde, e depois acena. — Me liga quando chegar.

— Tá. Mas vou ligar pro Tann primeiro. — Bunn provoca, fazendo o irmão bufar. — Tenho que ir.

— Tenha uma boa viagem — minha voz falha.

— Cuide do nosso apartamento… e desse velho rabugento aí. — Ele aponta para o irmão. — Se ele te encher o saco, me liga.

De repente, alguém o chama:
— Bunn! — A voz é masculina.

Um homem alto se aproxima. Ele e Boonlert parecem ter a mesma idade. O semblante é amistoso.

— Por pouco! 

— Vutt! — Bunn se volta, surpreso.

— Por que não me avisou que viajava hoje? Teria vindo antes. Tive que mandar mensagem pro Boon pra descobrir quando você partia.

Não sei por quê, mas um incômodo me invade.
Quem é esse cara?

— Não queria incomodar. Você devia estar trabalhando. Já me despedi de todos os professores, não precisava vir até aqui. —
Sinto um alívio ao perceber que Bunn não parece nada empolgado em vê-lo.

— Vutt! — cumprimenta Boonlert, contente. O homem, chamado Dr. Vutt, olha para Bunn com um ar melancólico.

— Boa viagem, Bunn.

— Vutt! — Boonlert o chama novamente, apontando discretamente para mim, como se quisesse apresentá-lo. Vutt segue o gesto e encontra meu olhar.

— Obrigado, Vutt. Não precisava vir. Eu já vou indo. — Bunn se despede uma última vez, acenando antes de seguir com a mala.
Olho suas costas se afastando, com o coração apertado. O tempo passa rápido demais quando vivemos sob o mesmo teto.
Ah, se ele pudesse passar tão rápido até que voltasse amanhã...

— Oi. — Vutt se aproxima, olhando a porta por onde Bunn saiu. Sinto a frustração crescer.
Quem ele pensa que é?
Que direito tem de se preocupar tanto com Bunn?

Talvez percebendo minha irritação, Boonlert o puxa de lado.
— Acho melhor eu intervir antes que o Tann acabe quebrando seus dentes no chão. — E acrescenta, rindo: — Grava bem o rosto dele. Esse é o namorado do Bunn.

Vutt empalidece ao me olhar. Endireito a postura, imponente, e estendo a mão friamente:
— Prazer em conhecê-lo.

— Oi… — ele responde, sem jeito.

— Este é o Dr. Vutt, professor de medicina legal como o Bunn. Foram colegas na faculdade. — Boonlert coloca a mão no ombro de Vutt e depois aponta pra mim. — E esse é o Tann. Eles se conheceram quando meu irmão trabalhava no norte. É dez anos mais novo que a gente. E, agora, é o namorado dele.

Sorrio levemente e inclino as mãos em sinal de respeito, à maneira tailandesa.
Vutt retribui.
— Então é você quem o Bunn mencionou. — Sorri com um ar triste. — Ele parecia bem feliz ultimamente. Agora entendo o porquê.

Bunn falou de mim?
Meu coração se enche de calor. Isso significa que ele não escondeu nosso relacionamento dos colegas só não é do tipo que sai contando.

Depois de vê-lo partir, pego o carro e volto para o apartamento. O trânsito de Bangkok é um caos, e chego em casa frustrado. O silêncio do lugar sem Bunn é sufocante. Sento-me à mesa, lembrando da comida caseira dele.

Vou ter que sobreviver com refeições prontas, como antes.
Respiro fundo, tentando espantar a solidão. Agora que Bunn se foi, preciso usar esse tempo para colocar minha vida de volta nos trilhos.

O professor Tann vai, enfim, conquistar fama e fortuna.

Meu celular vibra sobre a mesa.
Viro a tela e vejo uma notificação alguém mandou uma mensagem com perguntas sobre as aulas da minha página do Facebook.

Sorrio, com os olhos cheios de esperança.

Espere por mim, Bunn.
Eu vou realizar o meu sonho.


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