3 de out. de 2025

Revamp - Introdução

Introdução

As memórias geralmente surgem por meio de eventos que ficam registrados no cérebro. Sua duração depende da importância. Algumas se apagam em segundos, enquanto outras permanecem nítidas mesmo após décadas.

A ponta de seus dedos delgados desliza sobre uma velha fotografia na escrivaninha do porão. Ele não consegue dormir depois de acordar de um sonho há menos de uma hora. Seu corpo esguio decide sair da cama, carregando sua figura um tanto desalinhada até o lugar onde costumava passar noites inteiras em busca de respostas que nunca encontrou.

Dezenas de fotos sobre a longa mesa de madeira no centro do cômodo se misturam a papéis de formatos variados: recortes de jornal, impressões de computador ou folhas em branco preenchidas com anotações à mão.
Tudo aponta na mesma direção.

Pun Winnala tem motivos para prestar atenção especial a essas coisas. Embora não consiga encontrar a verdade aprisionada em suas lembranças, jamais conseguiu esquecê-las. E em alguns dias, sua dona as carrega para dentro dos sonhos, fazendo-o despertar no meio da madrugada, como hoje.

Os olhos castanhos claros se fecham suavemente, afastando-se da fotografia enquanto ela ergue as duas mãos para esfregar o rosto, ainda perdida em devaneios.
Mesmo exausto, em vez de descansar para que o corpo se recuperasse e pudesse enfrentar a nova manhã, ele precisou sair da cama quase duas horas antes do alarme tocar. Não conseguia voltar a dormir, por mais que tentasse.

— Suspiro. — Ainda que ficasse ali sentado até a visão embaçar, não obtinha respostas das informações diante de si. Na verdade, nem sabia por qual caminho seguir. O cérebro parecia entorpecido, já que nenhum indício surgia ultimamente sobre o que se escondia nas sombras.

Parecia que aquilo havia percebido sua existência e escolhido permanecer em segurança, aguardando que tudo voltasse ao normal.

Sem nada para fazer e ainda com muito tempo antes de começar o dia, seus olhos límpidos percorreram o porão, tão grande quanto a planta de uma casa. Estava repleto de objetos comprados e acumulados, quase esquecidos de serem cuidados. Ela planejava organizá-los algum dia.
E esse dia provavelmente seria hoje...

Pun explorou o lado oposto ao da escrivaninha. Objetos se amontoavam até quase transbordar pelo corredor. Havia comprado tudo para revender, mas o acúmulo era tão grande que mal restava espaço para andar. Embora vendesse dezenas de peças por dia na loja, os espaços vazios eram logo preenchidos por novas mercadorias armazenadas no depósito dos fundos em vez de permanecerem guardadas no velho porão.

CRASH!!

Pun não teve cuidado e tropeçou em objetos espalhados de qualquer maneira. A grossa camada de poeira acumulada se ergueu no ar, obrigando-o a levantar a camiseta preferida para cobrir o nariz. Com esforço, avançou até os fundos, acionando o interruptor que revelou móveis de madeira abarrotando o espaço.

— Só preciso abrir caminho para andar.
— Força, Pun! — Com ambas as mãos, pegou os utensílios de limpeza, passando-os sobre os móveis, espantando a poeira que chegava a um centímetro de espessura e verificando o estado dos artigos de segunda mão. A cadeira de vime ainda estava firme. Pun a puxou rapidamente do fundo, separando-a para levar depois para o andar de cima.

Planejava gastar pouco tempo, mas logo percebeu que a hora habitual de acordar já se aproximava. Seu corpo magro acelerou os movimentos ao notar a quantidade de coisas esquecidas naquele cômodo, muito mais do que poderia examinar em um único dia. Acabou escolhendo apenas alguns itens que chamaram sua atenção, enquanto suas mãos, ocupadas como os tentáculos de um polvo, continuavam a limpar às pressas.

Com o pé, empurrou um vaso para o lado, abrindo espaço para que um armário, tão alto quanto ele, pudesse ser encaixado em um canto. Reuniu todas as forças para afastar a mobília que bloqueava a passagem, encostando-a na parede.

— Suspiro. — O som do relógio anunciou a hora de levantar, exatamente quando terminou o improvisado esforço, que o deixou ofegante como se tivesse corrido por um parque.

Com o dorso da mão, limpou o suor que escorria pela testa até a linha do cabelo e exalou um suspiro ao ver o porão, antes tão caótico que mal se podia andar, agora em bem melhores condições.

— Muito bem feito. — Pun deu um leve tapinha na própria cabeça em recompensa, antes de retornar até a parede distante, desligando os interruptores de luz que já não eram necessários.

Mais adiante, a escrivaninha estava imersa na escuridão, iluminada apenas pela lâmpada de trabalho ainda acesa. Pun juntou os documentos espalhados sobre um dos lados da mesa, certificando-se de não esquecer nada, antes de subir as escadas não sem antes desligar a última luz, mergulhando o porão numa escuridão mais densa que a noite.

Quando o dono se foi, o silêncio tomou conta do lugar, sem sequer uma brisa para mover qualquer coisa. Porém, na gaveta inferior da escrivaninha, uma luz vermelha escapava por uma fresta, como se indicasse que outro segredo ainda permanecia oculto ali.


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