29 de mai. de 2025

MSN - Capitulo 05.2

Capítulo 5.2:: A verdade é uma bagunça (2)


PÁ!

Bird chutou meu pé de novo como um sinal. Sem hesitar, comecei a girar o anel discretamente para tirá-lo do dedo sem que o outro percebesse. Com isso, dei início à próxima fase do plano para pegá-lo no flagra.

CLANG! O anel de prata caiu no chão.

— Opa! O anel caiu — exclamei. Pena que ele não rolou muito longe de onde o tal de Yuk estava sentado. A intenção era que ele rolasse mais, pra o maldito do Bird poder analisar melhor a reação do cara, mas tanto faz. Isso já deve servir.

— O que faço? Caiu bem perto de você.

— Eu pego — disse ele com a voz grave. Mas o que ele fez depois me deixou completamente chocado.

Espera aí!

O desgraçado tirou a sandália e pegou o anel com os dedos dos pés, segurando com todo o cuidado. Meu anel, velho! Que nojo.

— Ah... obrigado — disse, hesitante. Isso é comportamento de gay? E agora meu anel provavelmente está fedendo a chulé, nem tenho coragem de colocá-lo de volta no dedo.

— Sem problema. Ele caiu perto do meu pé mesmo.

— E você usou o pé pra pegar por isso? Emocionante, hein.

— Nem é algo tão emocionante assim.

— Minha cara parece emocionada pra você?

— Não. Parece mais a pata de um urso.

— Grrr... — Maldito.

— Na real, você é meio frouxo também, né.

— Como é?

— Digo seus dedos. O anel caiu sozinho, né?

— Para de arrumar confusão, ou você vai perder — falei ameaçando.

— E você que não arrume confusão, ou vai acabar se apaixonando.

— Eiiiii — Bird interrompeu antes que a gente trocasse mais farpas. Nós dois olhamos para ele. — Tava falando da carne, que tá pronta e tá uma delícia!

Mas a carne que você enfiou na boca ainda tá crua, seu jumento!

— Seu amigo é um zumbi, é? Que estranho — Como se não bastasse me zoar, agora tá zoando meu melhor amigo. Esse cara nasceu pra dar com a língua nos dentes e vencer qualquer um. Admito.

— O Bird é assim mesmo. Babaca... — Igual a você...

Antes que eu terminasse de falar, o cara já enfiava carne grelhada direto na minha boca. Puta merda, tá quente! Será que vai queimar a boca?

— Tá gostoso? — perguntou com um sorriso largo. Aquele sorriso estava perto demais e causava uma sensação esquisita. O calor na boca já não era problema. Toda a atenção estava nele. E ele não parava de me encarar.

E agora? Tô travado. Normalmente ninguém me olha desse jeito com um sorriso tão... falso.

— Tá quente? — perguntou com aquela voz grave, me fazendo voltar à realidade. Mastiguei logo a carne pra poder responder à altura.

— Claro que tá.

— Por que esse povo aqui faz sempre cara emburrada?

— Não tô emburrado.

— Então você é “desse povo”?

— Eu tava falando comigo mesmo, não com você.

— Quer um vegetal?

— Não quero. Meu humor não é tão bom quanto minha aparência.

— E capim?

— Sou uma pessoa, não um boi.

— Jura? Mas parece.

— Já terminou de me zoar?

— Ainda não. Quero continuar por bastante tempo.

— Você vai ver só.

— Nem quero ver, não sou armário pra guardar ameaça.

— Cof cof... Que briguinha animada! Posso participar? É que tô carente — disse Bird, aparecendo como um herói para interromper a guerra fria entre eu e o escritor debochado. Logo depois, ele já voltou ao plano de investigar se o cara era gay ou não.

— Senhor Yuk, sua namorada não vai se incomodar por você estar aqui hoje?

Muito bom, Bird. Te amo!

— Não tenho namorada — respondeu Yuk, calmo, enquanto continuava a colocar carne, peixe e lula grelhados no meu prato.

— Sério? Que estranho. Bonito e com cara de mal como você, pensei que já tivesse conquistado uma porrada de garotas.

— Na verdade, só não encontrei ainda alguém que combinasse comigo.

— Já teve namorada antes? Desculpa a invasão, é que queria ser seu amigo — Mentira descarada, queria era outra coisa.

— No ensino médio, uma. Na faculdade, outra. Agora no trabalho, provavelmente mais uma.

Parece que ele define alvos em cada fase da vida. Tô com medo...

— Então você vai seguir trocando de namorada conforme muda de fase?

— Acho que agora vou parar. Quero encontrar alguém pra vida. Não vou voltar pro ensino médio pra buscar mais uma. — Frase comum, mas por que doeu tanto? Parece até indireta.

Bird deu um chute no meu pé, sinalizando pra eu continuar.

— E... suas ex eram homens ou mulheres?

— E o que eu ganho respondendo essa pergunta?

Uau! Ele quer barganhar!

— Eu grelho carne pra você.

— Ok. Minha ex era mulher.

Ufa! Nunca me senti tão aliviado na vida.

— Então grelha logo!

Ele mandou e eu obedeci feliz.

— Quer carne?

Me empolguei? Talvez. Mas tava feliz. Então é isso, o Yuk definitivamente não é gay, já teve namorada mulher.

— Pode ser.

— E camarão?

— Tudo bem.

— E vegetal? Couve, acelga, cenoura ou cogumelo?

— Quero você.

Peraí! O quê!?

Fiquei em choque por uns três segundos. Olhei pro outro lado da mesa e ele também parecia sem reação. Bird engoliu fígado cru e ficou com a boca cheia de sangue. Meu coração despencou.

— O-o que você disse?

— Quero que você fique aqui grelhando tudo pra mim. Qualquer coisa que quiser grelhar, manda ver.

— Ah... — Ufa. Minha mão tava tremendo. Que susto!

Depois de um tempo, não aguentei e fui ao banheiro lavar o rosto. Estranho... meu coração tava acelerado. Mas não de forma boa — era uma sensação de vazio.

Logo depois ouvi passos. Olhei pra porta e vi Bird entrando com cara de apavorado.

— Cara... o Yuk gosta de você, certeza!

— Você tá doido, Bird? Ele disse que as ex dele eram mulheres.

— Isso foi no passado. Não dá pra medir o presente com isso — revirei os olhos. A preocupação voltou a me consumir, silenciosamente.

— E agora, o que eu faço?

— Primeiro me diz se ele tem outros hábitos estranhos. Vou te ajudar a analisar.

— Ele gosta de ler livro de mulher. Aqueles solitários, cheios de emoção.

— Mas ele é escritor, né? Então isso não conta.

Tentei organizar os pensamentos. Tudo tava girando na minha cabeça.

— Ele vive se gabando do tamanho do pinto. Pode ser pequeno, né?

— Hm... isso é relevante. Quem tem complexo ou obsessão com algo costuma fazer isso pra compensar.

— E tem mais. Ele já me pediu pra gemer o nome dele.

Bird arregalou os olhos, quase saltaram das órbitas.

— Ele vai te transformar em escravo sexual, certeza!

— Hã!?

— Sim! Ele disse pra você gemer o nome, né? Como foi?

— Tipo... “Yukkkk~” assim?

— Sua cara combina com esse gemido. Bem convincente.

— Quer levar um tapa!?

Antes que eu terminasse, nós dois nos viramos para a figura parada ali...

Yuk.

Ele estava ali! Olhar surpreso, sem sabermos quanto ouviu. Meu corpo inteiro ficou dormente. Pensei mil desculpas, mas antes que falasse qualquer coisa, ele se adiantou:

— Vim ao banheiro.

— Ah é, eu e Bird já estávamos voltando pra mesa — disse o mais naturalmente possível.

— Uhum.

— Você chegou faz tempo?

— Agora há pouco.

— E você...

— A descarga fez barulho, não ouvi nada.

— Pois é, né? Quem foi que mijou? Haha.

— Aquele xixi parecia até gemido. Estranho.

Merda...!


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