PÁ!
Bird chutou meu pé de novo como um sinal. Sem hesitar, comecei a girar o anel discretamente para tirá-lo do dedo sem que o outro percebesse. Com isso, dei início à próxima fase do plano para pegá-lo no flagra.
CLANG! O anel de prata caiu no chão.
— Opa! O anel caiu — exclamei. Pena que ele não rolou muito longe de onde o tal de Yuk estava sentado. A intenção era que ele rolasse mais, pra o maldito do Bird poder analisar melhor a reação do cara, mas tanto faz. Isso já deve servir.
— O que faço? Caiu bem perto de você.
— Eu pego — disse ele com a voz grave. Mas o que ele fez depois me deixou completamente chocado.
Espera aí!
O desgraçado tirou a sandália e pegou o anel com os dedos dos pés, segurando com todo o cuidado. Meu anel, velho! Que nojo.
— Ah... obrigado — disse, hesitante. Isso é comportamento de gay? E agora meu anel provavelmente está fedendo a chulé, nem tenho coragem de colocá-lo de volta no dedo.
— Sem problema. Ele caiu perto do meu pé mesmo.
— E você usou o pé pra pegar por isso? Emocionante, hein.
— Nem é algo tão emocionante assim.
— Minha cara parece emocionada pra você?
— Não. Parece mais a pata de um urso.
— Grrr... — Maldito.
— Na real, você é meio frouxo também, né.
— Como é?
— Digo seus dedos. O anel caiu sozinho, né?
— Para de arrumar confusão, ou você vai perder — falei ameaçando.
— E você que não arrume confusão, ou vai acabar se apaixonando.
— Eiiiii — Bird interrompeu antes que a gente trocasse mais farpas. Nós dois olhamos para ele. — Tava falando da carne, que tá pronta e tá uma delícia!
Mas a carne que você enfiou na boca ainda tá crua, seu jumento!
— Seu amigo é um zumbi, é? Que estranho — Como se não bastasse me zoar, agora tá zoando meu melhor amigo. Esse cara nasceu pra dar com a língua nos dentes e vencer qualquer um. Admito.
— O Bird é assim mesmo. Babaca... — Igual a você...
Antes que eu terminasse de falar, o cara já enfiava carne grelhada direto na minha boca. Puta merda, tá quente! Será que vai queimar a boca?
— Tá gostoso? — perguntou com um sorriso largo. Aquele sorriso estava perto demais e causava uma sensação esquisita. O calor na boca já não era problema. Toda a atenção estava nele. E ele não parava de me encarar.
E agora? Tô travado. Normalmente ninguém me olha desse jeito com um sorriso tão... falso.
— Tá quente? — perguntou com aquela voz grave, me fazendo voltar à realidade. Mastiguei logo a carne pra poder responder à altura.
— Claro que tá.
— Por que esse povo aqui faz sempre cara emburrada?
— Não tô emburrado.
— Então você é “desse povo”?
— Eu tava falando comigo mesmo, não com você.
— Quer um vegetal?
— Não quero. Meu humor não é tão bom quanto minha aparência.
— E capim?
— Sou uma pessoa, não um boi.
— Jura? Mas parece.
— Já terminou de me zoar?
— Ainda não. Quero continuar por bastante tempo.
— Você vai ver só.
— Nem quero ver, não sou armário pra guardar ameaça.
— Cof cof... Que briguinha animada! Posso participar? É que tô carente — disse Bird, aparecendo como um herói para interromper a guerra fria entre eu e o escritor debochado. Logo depois, ele já voltou ao plano de investigar se o cara era gay ou não.
— Senhor Yuk, sua namorada não vai se incomodar por você estar aqui hoje?
Muito bom, Bird. Te amo!
— Não tenho namorada — respondeu Yuk, calmo, enquanto continuava a colocar carne, peixe e lula grelhados no meu prato.
— Sério? Que estranho. Bonito e com cara de mal como você, pensei que já tivesse conquistado uma porrada de garotas.
— Na verdade, só não encontrei ainda alguém que combinasse comigo.
— Já teve namorada antes? Desculpa a invasão, é que queria ser seu amigo — Mentira descarada, queria era outra coisa.
— No ensino médio, uma. Na faculdade, outra. Agora no trabalho, provavelmente mais uma.
Parece que ele define alvos em cada fase da vida. Tô com medo...
— Então você vai seguir trocando de namorada conforme muda de fase?
— Acho que agora vou parar. Quero encontrar alguém pra vida. Não vou voltar pro ensino médio pra buscar mais uma. — Frase comum, mas por que doeu tanto? Parece até indireta.
Bird deu um chute no meu pé, sinalizando pra eu continuar.
— E... suas ex eram homens ou mulheres?
— E o que eu ganho respondendo essa pergunta?
Uau! Ele quer barganhar!
— Eu grelho carne pra você.
— Ok. Minha ex era mulher.
Ufa! Nunca me senti tão aliviado na vida.
— Então grelha logo!
Ele mandou e eu obedeci feliz.
— Quer carne?
Me empolguei? Talvez. Mas tava feliz. Então é isso, o Yuk definitivamente não é gay, já teve namorada mulher.
— Pode ser.
— E camarão?
— Tudo bem.
— E vegetal? Couve, acelga, cenoura ou cogumelo?
— Quero você.
Peraí! O quê!?
Fiquei em choque por uns três segundos. Olhei pro outro lado da mesa e ele também parecia sem reação. Bird engoliu fígado cru e ficou com a boca cheia de sangue. Meu coração despencou.
— O-o que você disse?
— Quero que você fique aqui grelhando tudo pra mim. Qualquer coisa que quiser grelhar, manda ver.
— Ah... — Ufa. Minha mão tava tremendo. Que susto!
Depois de um tempo, não aguentei e fui ao banheiro lavar o rosto. Estranho... meu coração tava acelerado. Mas não de forma boa — era uma sensação de vazio.
Logo depois ouvi passos. Olhei pra porta e vi Bird entrando com cara de apavorado.
— Cara... o Yuk gosta de você, certeza!
— Você tá doido, Bird? Ele disse que as ex dele eram mulheres.
— Isso foi no passado. Não dá pra medir o presente com isso — revirei os olhos. A preocupação voltou a me consumir, silenciosamente.
— E agora, o que eu faço?
— Primeiro me diz se ele tem outros hábitos estranhos. Vou te ajudar a analisar.
— Ele gosta de ler livro de mulher. Aqueles solitários, cheios de emoção.
— Mas ele é escritor, né? Então isso não conta.
Tentei organizar os pensamentos. Tudo tava girando na minha cabeça.
— Ele vive se gabando do tamanho do pinto. Pode ser pequeno, né?
— Hm... isso é relevante. Quem tem complexo ou obsessão com algo costuma fazer isso pra compensar.
— E tem mais. Ele já me pediu pra gemer o nome dele.
Bird arregalou os olhos, quase saltaram das órbitas.
— Ele vai te transformar em escravo sexual, certeza!
— Hã!?
— Sim! Ele disse pra você gemer o nome, né? Como foi?
— Tipo... “Yukkkk~” assim?
— Sua cara combina com esse gemido. Bem convincente.
— Quer levar um tapa!?
Antes que eu terminasse, nós dois nos viramos para a figura parada ali...
Yuk.
Ele estava ali! Olhar surpreso, sem sabermos quanto ouviu. Meu corpo inteiro ficou dormente. Pensei mil desculpas, mas antes que falasse qualquer coisa, ele se adiantou:
— Vim ao banheiro.
— Ah é, eu e Bird já estávamos voltando pra mesa — disse o mais naturalmente possível.
— Uhum.
— Você chegou faz tempo?
— Agora há pouco.
— E você...
— A descarga fez barulho, não ouvi nada.
— Pois é, né? Quem foi que mijou? Haha.
— Aquele xixi parecia até gemido. Estranho.
Merda...!
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