Capítulo 06 :: Talismãs (符令)
Gu Buxia, em pânico, agarrou a barra da camisa dele.
— Você não pode voltar atrás na palavra! Eu apostei um mês da minha vida pra você me ajudar com esse relatório! Amanhã, depois que entregar, a gente segue cada um pro seu lado, sem mais interferências, entendeu?!
Jiang Chi, em silêncio, soltou a roupa, guardou o livro que segurava e pegou outro da estante.
Gu Buxia, aliviado, voltou a digitar concentrado. Finalmente havia silêncio. Jiang Chi também se pôs a trabalhar no próprio relatório.
Mas a trégua durou pouco.
— Jiang Chi, o que quer dizer essa parte aqui?
— Ei, me ajuda a traduzir isso!
— Essa frase… tá certa assim?
As perguntas vinham sem parar a cada cinco minutos, um novo “socorro”. Jiang Chi já demonstrava claramente a irritação no olhar e no tom de voz.
Percebendo isso, Gu Buxia arriscou uma proposta:
— Quer saber? Escreve pra mim logo, vai ser mais rápido! Assim você não precisa revisar e me explicar tudo de novo.
Jiang Chi ficou sem palavras e se levantou.
Pensando que ele estava desistindo, Gu Buxia puxou novamente a barra da camisa.
— Se eu não entregar amanhã, eu reprovo na matéria! Você prometeu! Quebrar promessa é coisa de porco e cachorro!
Jiang Chi respirou fundo, puxou a roupa de volta e sussurrou entre os dentes, bem perto do ouvido dele:
— Eu. Só. Vou. Ao. Banheiro.
— Ah, aprovado. — Gu Buxia fez um gesto de “tá liberado”. — Aproveita e pega uma bebida pra mim na geladeira!
Jiang Chi revirou os olhos.
Quando saiu do banheiro, abriu o refrigerador e encontrou facilmente a garrafa do colega o rótulo dizia em letras grandes:
“Buxia já cuspiu aqui.”
Jiang Chi suspirou, achando aquilo infantil demais… mas o canto da boca traiu um leve sorriso.
Foi então que o monitor da república apareceu. Ao ver Jiang Chi sorrindo com a bebida de Gu Buxia na mão, se assustou.
— Ei, Jiang! O Gu Buxia é super protetor com a comida dele, não arrisca beber isso. — Depois pensou melhor. — Ou… você vai colocar laxante? Cara, você é do curso de Direito, sabe que isso dá processo, né?
— Eu. Só. Tô. Pegando. Pra. Ele. — Jiang Chi respondeu com toda a paciência que conseguiu reunir, deu um aceno contido e saiu rápido dali.
O monitor deu-lhe um tapa no ombro e sorriu.
— Isso aí, convivência é tudo! Gosto de ver vocês se dando bem.
“Esse dormitório é um hospício”, Jiang Chi murmurou, balançando a cabeça.
De volta ao quarto, encontrou Gu Buxia dormindo de bruços sobre o teclado. Tentou acordá-lo com um empurrão.
— Gu Buxia… — sussurrou num tom firme. — Falta menos de doze horas pra entregar o relatório.
PÁ!
— Ai! — Gu Buxia pulou assustado e deu uma cabeçada em cheio no nariz dele. Jiang Chi gemeu de dor, e a bebida gelada virou improviso pra compressa.
Com o outro frio e o olhar gelado fixo nele, Gu Buxia finalmente se concentrou e conseguiu terminar o trabalho a tempo.
Guo Zhenghong, ainda impressionado com as habilidades de Jiang Chi, decidiu, junto com Lin Daihan, tentar recrutá-lo pro time de basquete da faculdade.
Eles o esperaram na saída. Quando Jiang passou, Guo foi direto:
— Jiang, vi você aquele dia seu arremesso foi perfeito.
Referia-se ao episódio em que Jiang salvou o diretor e, logo depois, acertou um arremesso de três pontos impecável.
— Você jogava no time do colégio, não é? — completou Lin.
— Vocês investigaram minha vida? — Jiang franziu o cenho.
— N-não! — os dois negaram rápido, assustados com o olhar frio dele.
— É que… temos um amigo que estudou na mesma escola se apressou Lin para corrigir.
A expressão dele amaciou um pouco.
— Não tenho tempo. Trabalho depois das aulas. — E foi embora sem olhar pra trás.
Guo suspirou frustrado. Lin bateu no ombro dele.
— Vamos pensar em outro jeito.
No fim do mês, Gu Butao assumiu oficialmente o templo da família. Gu Buxia voltou pra casa pra ver a cerimônia. Sentado do lado de fora do santuário, mandou uma mensagem:
“O professor disse que meu relatório ficou ótimo. Valeu!”
A mensagem foi visualizada quase na hora, mas sem resposta. Depois de alguns segundos esperando, guardou o celular.
Atrás dele, Butao conversava com alguns fiéis. Ele virou o olhar, puxou do pescoço o amuleto de proteção e o observou por um tempo.
Lembrou-se das palavras do avô:
“A-Xia, eles não querem te assustar. O vovô vai selar seu dom, assim você não precisa mais ter medo.”
Era a enésima vez que ele chorava de susto depois de ver fantasmas, e o avô o acalmava enquanto fazia o ritual.
Sorrindo, Buxia sussurrou para o ar:
— Vovô, o irmão mais velho do templo reforçou o amuleto pra mim. Eu tô usando direitinho. Continua protegendo eu e a mana, tá?
Enquanto ele rezava, Gu Butao se aproximou em silêncio e encostou um picolé gelado na bochecha dele.
Mas Buxia já tinha percebido a aproximação, bloqueou o golpe e pegou um picolé também.
— Quase, hein.
— Droga — ela riu e sentou ao lado dele.
— Mana, você tá cada vez mais parecendo um garoto. Assim ninguém vai querer casar contigo.
— Cala a boca, cuida da sua vida ela deu um tapa, mas ele desviou.
“Devia ter batido quando ele era pequeno”, pensou.
— Vai voltar no ônibus noturno?
— Uhum. — Ele ficou sério. — Quer que eu espere o tal “ritual de desbloqueio”?
— Não precisa — respondeu ela com um sorriso provocador. — Vai que você morre de medo…
— Medo? Quem viu fantasma fui eu, não você! Ainda bem que o templo ficou contigo — retrucou ele, emburrado.
Gu Butao deu risada, deu um tapinha no ombro do irmão… e, sorrateira, passou o líquido do picolé derretido na camisa dele.
— Ei! — Gu Buxia tentou revidar com o palito.
Os dois acabaram duelando de brincadeira, rindo em frente ao templo.
Mais tarde, já sozinha, Gu Butao preparou o ritual de desbloqueio.
O salão principal estava iluminado apenas pelas chamas das lamparinas. Diante do altar, ela acendeu incensos e rezou.
— Vovô, hoje o irmão mais velho me passou oficialmente o templo.
Já era meia-noite. Depois de se apresentar aos ancestrais, abriu um envelope que continha dois talismãs, cada um com o nome de um dos irmãos.
Antes de queimá-los, recordou o que o avô dissera:
“Queimando o talismã, você abre o olho espiritual. Vai ver e ouvir os espíritos sem medo. Essa é nossa responsabilidade: transmitir as mensagens deles à família.
Quanto ao Buxia… ele tem muito medo. Deixa o selo dele fechado.”
Gu Butao murmurou uma oração e colocou o talismã com o próprio nome no incensário. As chamas cresceram, o calor subiu, e ela espirrou.
— Atchim!
O espirro levantou fagulhas e uma delas caiu justamente sobre o talismã de Buxia.
— Ah não! — ela tentou apagar, mas já era tarde. Uma das bordas havia queimado.
— Droga, droga… — ela soprou, rezando rápido. — Vovô, e agora? Só queimou um pedacinho, né? Não deve dar problema…
Aflita, pressionou o papel danificado no fundo do incensário e continuou rezando desesperadamente, sem notar o som sutil como um chiado de rádio desregulado ecoando pelo ar.
Ao mesmo tempo, Buxia esperava o ônibus, quase dormindo. O ar ficou subitamente frio. Ele espirrou e se encolheu.
Pegou o celular pra passar o tempo. Um ruído estranho, idêntico a interferência de frequência, surgiu mas ele ignorou.
No dormitório, Jiang Chi estava sozinho. O quarto, normalmente apertado, parecia agora grande demais. Enquanto limpava, decidiu juntar o lixo do colega.
Foi quando notou o espadim de madeira de pêssego pendurado ao lado da cama de Buxia. Aproximou-se, curioso, e tocou levemente.
Só então percebeu que o cabo tinha inscrições — símbolos desenhados à mão por Gu Buxia.
— Infantil — murmurou.
Mesmo assim, um leve sorriso escapou no canto dos lábios.
Quando percebeu que estava sorrindo, Jiang Chi se assustou. Afastou-se rápido e deixou o espadim balançando no ar.
Mais tarde, deitado, olhou para a cama vazia em frente. Sem o barulho habitual, o dormitório parecia estranho demais.
Buxia dissera que voltaria tarde. Jiang Chi virou pro lado, afastando o pensamento que lhe cruzou a mente por um segundo:
“Devo esperar por ele?”
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